De acordo com a Organização Mundial de saúde (OMS), existe uma séria falta de novos antibióticos em desenvolvimento para combater a crescente ameaça de resistência antimicrobiana. Um relatório recente indica que apenas oito dos 51 novos antibióticos e produtos biológicos em desenvolvimento clínico para tratar microrganismos patogénicos resistentes a antibióticos são tratamentos inovadores, que podem adicionar valor à oferta atual de medicamentos. A maioria dos fármacos na carteira clínica são modificações das classes de antibióticos existentes e são apenas soluções a curto prazo.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da Organização Mundial de saúde, acredita que “a resistência aos compostos antimicrobianos é uma emergência de saúde global que vai comprometer seriamente o progresso da medicina moderna. Existe uma necessidade urgente de maior investimento na pesquisa e desenvolvimento de antibióticos capazes de combater infeções resistentes a antibióticos. “
A busca por novos antibióticos no século XX concentrou-se inicialmente na produção de compostos bioativos (CBAs) por microrganismos do solo. Posteriormente as investigações foram dirigidas para os microrganismos marinhos. No entanto, existe um nicho pouco explorado na biosfera com resultados promissores: os ambientes subterrâneos. Minas e grutas são um excelente reservatório de novas espécies de bactérias e fungos e já foram obtidos antibióticos de interesse de alguns deles. No entanto, a investigação sobre este assunto não tem sido considerada com toda a dedicação que merece, pelo que a Microbiologia de grutas e minas em Portugal é desconhecida, excetuando alguns estudos realizados em grutas vulcânicas dos Açores, muito diferentes em mineralogia e microrganismos das grutas de Portugal continental, desenvolvidas sobre calcários ou granitos. O estudo microbiológico de ambientes subterrâneos é, portanto, uma interessante linha de investigação, explorando uma grande variedade de bactérias e fungos desconhecidos com potencial de produção de novas substâncias bioativas.
Mas a busca por compostos bioativos não se limita apenas à medicina, sendo também necessária na agricultura. A este respeito, vale a pena chamar a atenção dos investigadores para o surgimento de novas pragas que atacam árvores frutíferas e que são transmitidas por insetos. O que o projeto PROBIOMA tem de novo e que o diferencia dos outros projetos existentes é o facto de concentrar a sua pesquisa em microrganismos de grutas ou minas, com uma capacidade comprovada de produzir compostos bioativos de interesse reconhecido. A atividade biocida de compostos bioativos será, portanto, testada numa seleção de bactérias fitopatogénicas.
A Faixa Piritosa Ibérica (FPI), com as minas de pirite, manganês, etc., constitui um cenário particular onde os microrganismos são submetidos ao stress e à necessidade de desenvolver um sistema metabólico capaz de lidar com a oligotrofia (falta de nutrientes orgânicos), e a expressão de genes que produzem compostos bioativos contra outros organismos concorrentes pelos escassos nutrientes disponíveis no ambiente, pelo que considerámos de grande interesse a exploração destes nichos subterrâneos para a pesquisa de novos microrganismos. A existência da FPI na área POCTEP é uma característica específica do território, que permite a pesquisa de novos recursos como os que são propostos neste projeto. A metodologia inovadora, com a aplicação de biotecnologia e biologia molecular com o estudo do genoma completo e a transcriptómica, oferece um valor acrescentado a este projeto e permite ser otimista na obtenção de resultados.
O projeto PROBIOMA poderá revelar novas estirpes de bactérias e de fungos com potencial produção de CBA de interesse para a medicina e agricultura. Além disso, uma terceira vertente deste projeto contempla a possibilidade de descobrir estirpes de microrganismos benéficos para o meio ambiente, devido à sua capacidade de degradar compostos xenobióticos, poluentes de solos e águas, pela sua produção de compostos surfactantes, polissacarídeos, lípidos, etc., com propriedades de melhoria de solos agrícolas. Adicionalmente, a empresa participante, que dará acesso às equipas de investigadores a esses ambientes subterrâneos e participará nas campanhas de amostragem, desenvolverá projetos visando impulsionar as infraestruturas de turismo nas áreas em estudo, a fim de aumentar o desenvolvimento e a economia das áreas que outrora tinham atividade mineira, agora abandonadas, e que estão localizadas em regiões e municípios deprimidos.